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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Fumar é pecado?


Se Paulo escrevesse aos gálatas hoje, incluiria o tabagismo entre as obras da carne


A lista das obras da carne termina com: “e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já dantes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5.21). Vários pecados que conhecemos hoje foram omitidos porque sequer existiam à época em que Paulo andou na terra, como o hábito de fumar.

Quando vou à Europa, especialmente a Portugal, fico admirado com a grande quantidade de fumantes. Mas, sabe de onde partiram os primeiros carregamentos de tabaco para consumo entre os nobres europeus? Do Brasil! É provável que a primeira plantação de tabaco para exportação do mundo tenha sido uma roça paulista de 1548, de acordo com o historiador brasileiro Leandro Narloch (Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, São Paulo: Leya, 2009).

Se os europeus contribuíram decisivamente para tornar os índios alcoólatras, estes apresentaram àqueles o fumo. Até os navegadores descobrirem a América, não havia cigarros na Europa, tampouco o costume de tragar fumaça. Os índios americanos, de modo geral, não só fumavam, como também mascavam e cheiravam a folha de tabaco. A planta, para eles, tinha ligação com os espíritos e era fumada antes de guerras, bem como por prazer e para aliviar dores.

No século XVI, o fumo foi levado como amostra para o rei de Portugal. E a planta chamou muito a atenção de Jean Nicot, embaixador francês em terras lusitanas, o qual mandou, em 1560, uma remessa de fumo para a rainha Catarina de Médici. Como a erva caiu no gosto da corte francesa, Nicot acabou emprestando o sobrenome para a substância nicotina e para o seu nome científico: Nicotiana tabacum.

Assim como os padres, muitos pastores do passado fizeram vista grossa para o fumo. Alguns, na verdade, até davam umas tragadas “para a glória de Deus”, acreditando — equivocadamente — que a “erva santa” fazia bem à saúde, eliminava o catarro, aliviava o estômago, etc. Com a industrialização do cigarro, o hábito de fumar tabaco tem resultado numa catástrofe, com milhões de mortes. A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que o fumo matará um bilhão de pessoas no presente século.

Diante do exposto, que sentido faria o apóstolo Paulo incluir o tabagismo entre as obras da carne, se esse mal sequer existia naquele tempo? Quem estuda a Bíblia com cuidado sabe que ela possui mandamentos e princípios gerais suficientes para nos convencer de que o ato de fumar é pecaminoso e incompatível com a vida cristã. É evidente que, se Paulo escrevesse hoje a Epístola aos Gálatas, ele incluiria o tabagismo na referida lista de pecados capitais.

Tenho dito com frequência que a Bíblia não é apenas um livro de mandamentos específicos. Ela é também um livro de mandamentos e princípios gerais. E, a despeito de não mencionar diretamente todos os pecados da atualidade, ela nos fornece um conjunto doutrinário completo pelo qual podemos nos posicionar quanto às novas formas de pecado. Como o Diabo é criativo, a cada dia surgem pecados que não existiam à época em que os livros bíblicos foram escritos. E isso exige dos pregadores, ensinadores e escritores cristãos um conhecimento mais profundo das Escrituras, a fim de não abraçarem argumentos simplistas.

Ciro Sanches Zibordi

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