A cada 15 segundo uma mulher é agredida ou espancada no Brasil, segundo dados da Fundação Perseu Abramo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) relata que 29% das brasileiras já foram vítimas de violência física ou sexual pelo menos uma vez na vida. O drama é tema do livro ‘Até Quando?’, dos autores Aileen Silva Carroll e Sérgio Andrade, lançado em 2010 pela editora Ultimato, expondo a violência contra a mulher sob outro ponto polêmico: o papel da Igreja e o crescimento nos números de vítimas dentro da comunidade evangélica.
O livro apresenta informações concretas e dicas práticas para ajudar pastores e líderes a lidarem com situações de violência dentro de sua própria comunidade de fé. A obra é fruto de entrevistas e depoimentos colhidos de vítimas de violência pertencentes à comunidade evangélica, somando ao todo 132 casos só dentro da Igreja. Desses, 50 participaram ativamente da produção.
Sérgio, em seu ministério pastoral acompanhou casamentos nos quais a mulher sofre com violência e Aileen, técnica e educadora na Associação Menonita de Assistência Social (Amas), trabalha com o tema da violência há alguns anos. “É trágico presenciar agressões brutais, ameaças e humilhações entre pessoas, especialmente quando entendemos que essas duas pessoas são seres que Deus criou à sua própria imagem e semelhança, pelos quais Cristo deu sua vida” relatam.
Dentro da Igreja, casos de pastores agressores expõem um lado negativo em certas lideranças, que segundo Carroll e Andrade, se escondem em suas imagens de pessoas amáveis, confiáveis, sendo incapazes de qualquer dano aos valores morais e de família. Quando os lobos em pele de cordeiro atacam, é difícil se assimilar um crime a alguém exemplo na comunidade. “Não devemos achar que não pode ser possível, ou pensar que ela deve ter feito alguma coisa para merecer tal violência, só porque conhecemos e respeitamos seu marido. Existem mulheres, especialmente evangélicas, que ficam caladas sobre a violência que sofrem, porque aprenderam na igreja que deveriam se calar para receber a vitória mais rapidamente, ou até mesmo que a violência é prova de Deus. Os agressores usam interpretações erradas da Bíblia para justificar seu uso da violência” defendem.
A violência impacta na vida espiritual de cada vítima. O medo de pessoas do sexo masculino, segundo os autores se confunde ainda com as alusões feitas a Deus por meio da palavra ‘Pai’. A relação soa até forçada a quem nunca presenciou ou sofreu um ato de violência, mas a realidade é que o drama acontece com mais freqüência do que a Igreja pode controlar. Mesmo sem expor seu problema, muitas vítimas apresentam sinais de que sofrem agressão, como medo do esposo, falta de amizades ou a submissão ou proibição por parte dos maridos, relacionadas a trabalho fora de casa. Pior que os danos visíveis são os que somente a vítima reconhece: os sentimentos. “Na área psicológica, pode ser difícil para as mulheres superarem suas feridas. Algumas terão grandes obstáculos pelo prejuízo à auto-estima, depressão e o medo que novas agressões”.
Carroll e Andrade destacam o posicionamento ideal da Igreja e alertam as falta de preparo para a situação no meio evangélico: “A igreja precisa se dar conta que existem casos de violência entre os seus próprios fieis, conhecer mais sobre o fenômeno para estar preparada para acompanhar, de maneira eficaz, pessoas que sofrem violência e pessoas que usam a violência. Ela pode ser uma voz profética, abrindo sua boca contra este pecado”.
Como ponto positivo, há o aumento no número de casos registrados pela polícia desde 2008, o que significa uma maior visibilidade e mais denúncias contra este mal, apesar de ainda se escorar no silêncio de muitas vítimas. As denúncias para atos de violência contra mulheres podem ser feitas de qualquer lugar do Brasil através do número 180 na Central de Atendimento à Mulher, que funciona 24 horas e preserva o anonimato do denunciante, ou na delegacia da mulher mais próxima.
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